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Antonio Montano

Nossas (boas) impressões de RENT

Acabo de sair do espetáculo Rent, em cartaz no Teatro Frei Caneca. Foram alguns minutos até chegar em casa enquanto os diálogos, as músicas e as discussões propostas me faziam rever mentalmente cada número, cada cena. Impossível dormir enquanto os neurônios dançam “La Vie Bohème” na minha cabeça. Então, resolvi escrever minhas impressões já, ainda esta noite. E começo pela conclusão... Eu amei, cantei, aplaudi, gritei e me emocionei.


No início da divulgação desse projeto, confesso que eu tive uma pontinha de preconceito quando Bruno Narchi, quem produziu o musical, foi anunciado no papel de Mark, um dos protagonistas. Não porque eu tivesse algo contra o ator, pelo contrário, não conhecia seu histórico e nem trabalhos anteriores. O meu azedume foi por pensar que era fácil “se colocar como protagonista já que você é o dono”, algo no estilo dono da bola que decide em qual posição do time ele vai jogar mesmo sendo um perna de pau. Enfim, mordi a língua, ele está muito bem no papel e sua troca com Thiago Machado, no papel de Roger, é uma sintonia perfeita.


Thiago é um ator/cantor excelente e com uma força tão grande no palco que minha imagem do Roger daqui para frente será para sempre ele. Suas cenas com Ingrid Gaigher, a Mimi, são quentes e apaixonadas. Que vozes, meus senhores. Que vozes!


Angel é um dos personagens mais densos e amados pelos fãs de Rent. No espetáculo é interpretado por Diego Montez, recém-saído da versão brasileira de Wicked, no qual dividia o papel do príncipe Fyero com Jonatas Faro. Ele diverte a plateia mas nota-se que Angel e Diego ainda estão em um processo de se conectarem, falta uma chama, que já está em brasa, se acender. Percebemos esse detalhe, principalmente, no jogo de cena com o talentosíssimo Max Grácio, no papel de Collins, uma das mais belas vozes em cena e responsável pelo momento mais intenso e emocionante.


E, já que falamos de Wicked, não existe meio de não se encantar por Maurren, encarnada em Myra Ruiz, que será nossa eterna Bruxa Má do Oeste Elphaba. Quem a viu toda de verde e coberta dos pés a cabeça vai se impressionar com as curvas e sensualidade nesse novo trabalho. Antes mesmo de sua primeira nota, é ovacionada pelo público, recebida como uma estrela. No entanto, percebemos que seu talento também está na humildade necessária ao ofício de atriz, compartilhando com seus colegas o momento de cada um brilhar.


Atenção à mendiga (Lívia Graciano), um papel minúsculo, mas que traz momentos hilários ao musical de texto tão denso e complexo. Um refresco que, a princípio, era função de Angel. Pitadas de descanso enquanto Rent joga em nossa cara o debate sobre AIDS, drogas, homossexualidade e pessoas em situação de total vulnerabilidade.


Alguns pontos a melhorar também merecem destaque, como o microfone ligado com delay em vários momentos importantes do primeiro ato. O ator iniciava seu solo e só algumas palavras depois ouvíamos sua voz. Eu estava quase olhando para a cabine de som e gritando “acorda aí, meu filho”, rs. Além disso, faltou atenção da direção aos diálogos importantíssimos que funcionam como um prólogo. Falo sobre aquela pequena frase de apenas alguns segundos que vai te situar quem é quem, porque aquilo está acontecendo. Passagens que deveriam ser pronunciados com toda a clareza e articulação. Foram sutilezas que não conseguíamos entender e deixavam, principalmente quem nunca acompanhou a história antes, boiando. Não foi raro ouvir na hora do intervalo, na fila do banheiro, as pessoas se perguntando e tentando entender quem namorava quem, como, quando e o porquê. Perder esse fio da meada pode estragar a concentração em todo o espetáculo.


No entanto, trata-se de uma ópera-rock, os "ruídos" e a "sujeira" cênica fazem parte do proceso, e isso é Rent. Um turbilhão de informações que cai no nosso colo, e tentarmos unir as peças buscando coerência no caos é o modo como o espetáculo deve ser consumido.


Hoje (21), acontece a última sessão do ano, mas estarão de volta à temporada a partir do dia 10 de janeiro. Assistam! Uma, duas, muitas vezes! O trabalho geral está fantástico e merece ser prestigiado... Vida longa ao Rent no Brasil.

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